quarta-feira, 21 de maio de 2008

A oportunidade da criança através do esporte

Texto retirado do Site da CBDA e encaminhado por Marisa Zattar

A oportunidade da criança através do esporte
Ricardo de Moura (CBDA)

Recebemos esta semana e-mail de um pai de atleta que perguntava, após visitar a apresentação no site da CBDA do “Planejando 2012” (ver ao lado no ′Leia Mais′), sobre as expectativas que ele poderia ter em relação ao futuro do filho no esporte.

O filho é uma criança de 12 anos que já se destaca nas competições estaduais de natação e, como o pai não é uma pessoa que tenha praticado esporte de forma competitiva, perguntou sobre que caminhos percorrer e as sugestões que pudessem identificar e solidificar as perspectivas futuras de um talento esportivo.

Como não foi a primeira vez em que fomos consultados sobre o assunto, através do site, resolvemos responder de maneira pública.Por razões óbvias, os nomes dos protagonistas (pai e filho) que motivaram estas linhas, serão mantidos em sigilo.

Vale lembrar que não é só no esporte que os talentos surgem desde cedo: podemos encontrá-los nas artes, nas letras, na música, na ciência e em outros ramos de atividade.

O nascimento de um possível talento no esporte pode vir de um resultado de competições entre atletas da mesma idade em que ele apresente um resultado diferenciado.

A partir daí, é importante se ater a alguns fatores que ajudem a manter o foco sobre uma previsão realista da dimensão do resultado obtido: primeiramente, a nível nacional, entender que existe mais vinte e seis estados brasileiros produzindo talentos de forma constante, tanto em competições oficias quanto em competições para atletas não federados e que não aparecem nos rankings oficiais, mas que podem despontar a qualquer momento.

A nível internacional, são mais de 200 países filiados à Federação Internacional de Natação, com talentos iguais ou melhores que ele.E talento não escolhe lugar e nem hora para nascer. Estão surgindo a todo o momento e em todos os lugares.

Os resultados são subjetivos em idades menores em função das diferenças do crescimento físico, biológico e maturacional de cada criança. Ou seja, as crianças não crescem e se desenvolvem de forma igual e proporcional. Alguns têm momentos com desenvolvimento maior dos membros inferiores, outros de desenvolvimento mais avançado dos membros superiores, o mesmo ocorrendo com a envergadura, circunferência toráxica e outros seguimentos, interferindo de forma decisiva na coordenação de movimentos do atleta.

Da mesma forma, uma criança de 12 anos pode ter atingido um desenvolvimento maturacional compatível com o de uma criança de 14 anos e ter os parâmetros de força, naquele momento, mais desenvolvidos.

Obviamente, os resultados dessa criança serão, nesse dado momento, melhores que outras com desenvolvimento biológico menor. Por isso, os recordes obtidos em classes menores são igualmente subjetivos.

No Brasil, não há recordes nacionais de classe. Somente recordes de Campeonatos Nacionais.

Daí o cuidado que se deve ter com os resultados nas idades precoces. Esses resultados não devem ser supervalorizados nem mesmo descartados, mas merecem uma análise mais apurada.

Os dados biológicos apresentados pelos atletas têm profunda relação com a carga genética familiar e são importantes na perspectiva de futuro do atleta.

Os pais são fundamentais no aparecimento e no acompanhamento do desenvolvimento esportivo do atleta. Um talento não se desenvolve sozinho, mas depende muito da vontade intrínseca de realmente querer melhorar constantemente e buscar os meios saudáveis e palpáveis para isso.

O atleta deve, fundamentalmente, ter o desejo de se dedicar ao esporte competitivo com o objetivo de tornar-se um atleta de alto nível. Mas, às vezes, o fator maior de impulso do atleta encontra-se mais no desejo dos pais que no do atleta. Os pais não devem assumir a atividade dos filhos como se fossem suas e achar que seus desejos são os mesmos que o de seus filhos.

A qualidade dos profissionais, o ambiente e infra-estrutura para o desenvolvimento das aptidões dos atletas bem como o acompanhamento médico periódico são outros fatores decisivos no desenvolvimento da vida esportiva.

Muitos serão os desafios a serem vencidos ao longo da vida esportiva até chegar ao ápice. O esporte é uma parte da vida que auxilia muito na educação e na formação da criança quanto cidadão. O esporte auxilia a entender e fixar os conceitos básicos de disciplina, o respeito às regras, aprender a respeitar os adversários, aprender a buscar seu próprio lugar, conhecer seus limites e trabalhar em cima deles, buscar a melhora constante, a viver em sociedade, a entender a derrota e a vitória e criar hábitos saudáveis de vida.

Somente 1% de todos os atletas chegam ao topo máximo de consagração esportiva. Um atleta de alto nível na natação leva de dez a doze anos para se tornar expoente internacional.

Os estudos, as expectativas equivocadas, a falta de planejamento, pressão exagerada de pais e técnicos, fracos resultados esportivos, problemas com o técnico, dirigentes e a equipe, lesões e falta de apoio são alguns dos motivos já identificados que podem causar o abandono precoce dos atletas.

Ao longo dos anos a CBDA tem criado a oportunidade de identificar vários talentos, realizado estratégicas conjuntas com técnicos e coordenado trabalhos com a equipe multidisciplinar que ajudaram a desenvolver a vida esportiva de muitos de nossos campeões.

O assunto é rico em detalhes, empolgante e sempre atual.

No momento em que for detectado um possível talento, auxiliarão o desenvolvimento do nadador: identificar a realidade, criar as condições básicas de infra-estrutura para a prática do esporte, estipular objetivos a curto e médio prazos, programar um caminho com possibilidades reais de ser percorrido de acordo com os objetivos e observar o desenrolar dos acontecimentos com uma certa naturalidade.

A cada ano aumentarão as responsabilidades quanto a rotina de treinamento, concentração nas atividades esportivas e a pressão nas competições.Os resultados irão surgindo e, de forma mais clara, poderemos concluir se a possibilidade do surgimento de um talento se transformou em realidade.

Alguns fatores interferirão no processo de detecção e desenvolvimento dos talentos esportivos: a saúde, os fatores psicofísicos, as condições sócio-culturais, os fatores econômicos e a infra-estrutura esportiva.

O sucesso dependerá de se ter disciplina como rotina, a técnica como a principal ferramenta, a obstinação como um traço de personalidade, a competição como um prazer e o sonho como o combustível.

E não perder o foco.

No mais, lembrar:

1- Que o talento é sempre o maior diferencial em qualquer planejamento esportivo. Ele pode, até mesmo, corrigir de forma natural os desvios de possíveis erros de planejamento e treinamento.

2- O planejamento e as expectativas coerentes são importantes no processo de desenvolvimento esportivo. Mas o que faz mesmo acontecer é o trabalho incessante e diário.

3- Confiar no que se está fazendo faz produzir duas vezes mais. O auxílio de profissionais capacitados e um bom relacionamento entre as pessoas envolvidas no processo ajudam muito.

4- Existe uma diferença grande entre trabalho duro e trabalho sério. O trabalho duro pode e deve ser planejado com sessões de menor intensidade entremeado entre as sessões de maior esforço. A brincadeira pode fazer parte do trabalho sério.

5- A criança não é um adulto em miniatura. Isto equivale a dizer que planejar o trabalho para crianças não é ter o trabalho dos adultos com menor volume e intensidade. Cada criança tem necessidades diferentes em cada uma de suas idades, com tarefas específicas e delimitadas.

6- Deixe seu filho decidir sobre o futuro dele. Apóie, incentive, valorize. Você não vai conseguir treinar por ele nem competir por ele. Ele necessita, mais que tudo, de seu apoio e incentivo.

7- Treinar com alegria, satisfação e com imensa vontade de superar os desafios dia após dia são ingredientes que poderão, de forma significativa, transformar o talento em realidade.


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